Dança. A expressão que vem das Ruas
De fones nos ouvidos e rádio no ombro, dançando nas ruas, nas praças, e ao som do hip hop, são poucos os públicos que se interessam pelo movimento, outros até o censuram. Porém os poucos aplausos se confundem com muitos, devido ao eco despertado pelo som dos mesmos.
O desejo de dançar é a mesma ânsia pelo sexo. É a mesma sede de um toxicodependente. É o ansiar pelo um movimento. É a mesma dor sentida pelo nascimento. Podes não consentir quando equiparo o desejo pelo sexo, a ânsia de um toxicodependente, e a dor de um nascimento com o desejo de dançar. E concordo, porém a dança é o que não podes entender sem sentir, sem dançar. E podes muito bem utilizar a mesma frase para referir as outras situações, e digo “Devias experimentar!”.
As danças provem das ruas, mas parece que se passa entre quatro paredes, uma vez que não o reconhecem como um movimento (cultural em Cabo Verde). Uma vez mais, me encontro a equiparar a dança ao sexo, este que se passa entre quatro paredes, porém mais do que as danças (urbanas) é um movimento reconhecido.
Um dançarino sem a dança, isto é, que não exerce ou a pratica. É o mesmo que ir a igreja mas não crer no que se diz, não ter fé. É fazer cachupa mas esquecer se de colocar o milho. É um discurso político repleto de promessas vazias. É fazer funana e esquecer da gaita e do ferro. É o funana que se faz hoje em dia. Um dançarino sem a dança. É o mesmo que o Kk Barbosa a falar de Hip Hop.
A rua é a universidade formadora desses indivíduos. Uma universidade que por si só é completa. Visto que uma universidade (académica) nunca te prepara para a vida nas ruas e a universidade das danças urbanas já se encontra nas ruas. Na rua cada passo é uma matéria, é um conteúdo. E cada show é um teste. Cada reconhecimento é um certificado.
É nas ruas que os dançarinos se encontram para batalha de ideias, um verdadeiro parlamento, onde a dança é o assunto, e os dançarinos, revolucionários dessa sociedade cega. Sociedade, esta iludida pelos desmandos dos “políticos” cabo-verdianos. Os amantes do movimento Hip Hop são os reais políticos formados nas ruas.
Os movimentos são ricos e precisos, movimentos que emocionam os poucos públicos, os amantes do movimento Hip Hop Kriolu. Para aqueles que não o reconhecem só há uma possível refutação “acreditar que o movimento Hip Hop não é uma cultura, é manifestar uma cultura de ignorância”
A aspiração para persistir é imensa, mesma que hoje os amantes desse movimento não tem vez e voz nos eventos, festivais, e Tv’s de Cabo Verde. O desejo de ir de “Backstreet” para “Backstage” é enorme, mas ainda assim, “as ruas são os melhores palcos para os dançarinos de danças urbanas”.